*Por Beatriz Montesanti
Os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon vem se destacando no mundo dos quadrinhos, publicando seus títulos nos EUA, Itália e Espanha. Ao todo, os irmãos de “Daytripper” já ganharam quatro Eisner Awards, o “Oscar dos quadrinhos”, por trabalhos individuais e em conjunto. O Educar para Crescer conversou com eles para descobrir as obras que os inspiram.
Fábio Moon começou a fazer quadrinhos com uma vontade: criar nas pessoas a sensação que sentia quando lia obras literárias. Ao ler Capitães de Areia, ainda garoto, queria fazer parte daquela turma de meninos de rua em Salvador. O autor Jorge Amado o colocava diante daquela situação sedutora, daquela vida incrível. “Eu queria fazer o mesmo: criar coisas que deixassem as pessoas querendo saber mais sobre aquilo, querendo seguir aquele caminho e querendo descobrir aquelas aventuras. Eu via isso nos livros que a escola me fazia ler”, relembra o artista.
Seu irmão gêmeo, Gabriel Bá, tinha a mesma sensação. Ambos tiveram uma infância mais reclusa e, pelo fato de irem bem na escola, tinham tempo livre para criarem em casa, lendo e desenhando: “Eu passava muito mais tempo em casa desenhando e lendo do que na rua jogando bola. Em parte porque tenho um irmão gêmeo e a gente podia fazer isso junto. A gente se bastava e ficávamos desenhando o tempo todo juntos e isto acabou nos levando a fazer histórias em quadrinhos”.
Confira abaixo os livros que inspiraram Fábio Moon e Gabrial Bá, durante a infância e adolescência, alguns dos quais citados pelos dois.
Capitães de Areia – Jorge Amado
Fábio Moon: “Nós víamos naquelas histórias e queríamos ser o adolescente que víamos ali.”
Gabriel Bá: “Foi um livro que influenciou os dois. A gente tinha 14 anos e se relacionava com o livro por ser uma história sobre adolescentes, só que eles estão vivendo mil aventuras e você é um moleque estudando para ir bem na escola. São coisas que te atraem, porque você gostaria de ser aquela pessoa.”
Fábio Moon: “O Eisner trabalhava muito bem a questão de criar um mundo no qual você se reconhecia.”
Fábio Moon: “Eu achava que as coisas que aconteciam nas histórias do Laerte, que se passavam na Vila Madalena, onde eu moro, podiam acontecer comigo, porque eu moro lá, eu reconheço aquelas calçadas, aquelas árvores… Parece surreal, mas é este o poder da ficção: mergulhar você na história, pois você reconhece alguma coisa lá. O Laerte fazia muito isso para mim em São Paulo.”
Fábio Moon: “As pessoas não dão valor à poesia hoje em dia. A poesia é brega, você faz uma riminha com amor, dor e calor e você acha que está fazendo poesia. Mas a história em quadrinho tem muito a ver com poesia, porque você tem que resumir muito o que irá colocar em palavras, pois não se tem todo o espaço do mundo. Você tem que escolher muito bem as palavras, as imagens, e tem que criar um ritmo de leitura. Isso você descobre com a poesia, lendo Fernando Pessoa, tragédias gregas, tudo tem um ritmo que fica. Você não pensa mais em rima, mas no ritmo.”
Depois Que Todo Mundo Dormiu – Eduardo Piochi
Gabriel Bá: “É um livro sobre duas crianças que moram em uma casa e, enquanto a mãe dormia, saem pelas ruas de São Paulo pelo quintal que se transforma em um verdadeiro submarino. Quando chegam ao Minhocão, mergulham e caem no andar de baixo, na Amaral Gurgel. Os meninos dão essa volta e retornam para casa. Este livro me atraiu primeiro pelos desenhos, era um livro ilustrado, com uma estrutura de quadrinhos, e também mostrava um lugar que existia em São Paulo. Foi a primeira vez que vi a cidade em uma história em quadrinhos e enxerguei que o meu mundo podia fazer parte destas histórias.”
100 dias entre o céu e o mar – Amyr Klink
Gabriel Bá: “Gostei bastante por ser uma história que aconteceu de verdade, ser uma pessoa que existe.”
Os gêmeos também conversam com o Educar sobre suas vidas escolares e a importância da Educação. Confira os depoimentos: